CULTURA
Bela Vista de Goiás é o berço de um dos maiores nomes da literatura brasileira
A cidade se destaca como um centro cultural de grande relevância no Brasil. Conhecida poeticamente como a “terra dos buritizais sussurrantes”, é o berço de um dos maiores expoentes da literatura brasileira, cuja trajetória de vida e obra transformou o pequeno município do cerrado em um marco no mapa cultural nacional e internacional.
01/12/2024 14:04 -
- (Bela Vista de Goiás, está situada a apenas 45 quilômetros de Goiânia)
A cidade se destaca como um centro cultural de grande relevância no Brasil. Conhecida poeticamente como a “terra dos buritizais sussurrantes”, é o berço de um dos maiores expoentes da literatura brasileira, cuja trajetória de vida e obra transformou o pequeno município do cerrado em um marco no mapa cultural nacional e internacional.
As raízes do cerrado e a formação de um ícone literário
Bela Vista de Goiás sempre esteve associada a sua paisagem bucólica e ao encanto de sua natureza, aspectos que alimentaram a criatividade de seus habitantes ao longo das gerações. Nesse cenário, em 30 de junho de 1931, nasceu Gilberto Mendonça Teles, que, anos mais tarde, se tornaria um dos maiores poetas, críticos literários e professores universitários do Brasil.
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O ambiente cultural de Bela Vista moldou as primeiras inspirações de Gilberto. O jovem encontrou na cidade uma harmonia entre a simplicidade do interior e a profundidade poética que viria a marcar sua obra. Não por acaso, o poeta Leo Lynce, que também celebrava a beleza do cerrado, cunhou o verso que define a cidade como a “terra dos buritizais sussurrantes”, em referência ao som produzido pelas folhas ao serem tocadas pelo vento. Essa poesia natural se tornou uma constante nas obras de Gilberto, que soube combinar raízes locais com perspectivas universais.
Formado em Direito e Letras Neolatinas pela Universidade Católica de Goiás e pela Universidade Federal de Goiás (UFG), Gilberto foi professor fundador de ambas as instituições, ajudando a estruturar e consolidar o ensino superior no estado. Sua atuação acadêmica em Goiás incluiu a criação do Centro de Estudos Brasileiros na UFG, iniciativa de grande impacto cultural que acabou interrompida pelo regime militar em 1964.
Carreira acadêmica: um legado que transcende fronteiras
Apesar das dificuldades enfrentadas durante o período da ditadura militar, Gilberto Mendonça Teles nunca deixou de expandir sua atuação acadêmica. Com uma bolsa de estudos, ele se especializou em Língua Portuguesa na Universidade de Coimbra, em Portugal, em 1965. Em seguida, a convite do Itamaraty, lecionou no Instituto de Cultura Uruguaio-Brasileiro, em Montevidéu, uma experiência que aprofundou sua conexão com a América Latina.
A partir da década de 1970, Gilberto passou a atuar no Rio de Janeiro, onde foi contratado como professor titular de Literatura Brasileira e Teoria da Literatura pela PUC-Rio, instituição na qual dedicou mais de 50 anos de sua vida acadêmica. Além disso, lecionou na Universidade Federal Fluminense (UFF) e na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), orientando dezenas de mestrandos, doutorandos e pós-doutorandos.
Sua influência não se limitou ao Brasil. Gilberto também foi professor visitante em universidades de prestígio na Europa, como Lisboa, Rennes e Nantes, na França, e Salamanca, na Espanha, além de instituições nos Estados Unidos e na América Latina. Por sua atuação acadêmica, ele ajudou a formar uma geração de professores e pesquisadores que perpetuam seu legado.
Obra literária: entre a tradição e a inovação
Gilberto Mendonça Teles é reconhecido por sua produção poética e crítica literária, que dialogam com a tradição e a inovação. Sua poesia combina influências do simbolismo, do modernismo e das vanguardas literárias, explorando a estética visual e os limites da linguagem. Obras como A Raiz da Fala (1972), Arte de Armar (1977) e Improvisais (2012) refletem sua capacidade de experimentar formas e estilos, ao mesmo tempo que resgatam elementos clássicos da literatura.
Na crítica literária, sua contribuição é igualmente notável. Livros como Drummond: a estilística da repetição e Vanguarda europeia e modernismo brasileiro tornaram-se referências obrigatórias para estudiosos da literatura. Seus estudos sobre Carlos Drummond de Andrade e a análise cronológica dos movimentos de vanguarda europeus e latino-americanos são amplamente citados e utilizados em pesquisas acadêmicas.
Reconhecimento e prêmios: uma carreira consagrada
Ao longo de sua trajetória, Gilberto recebeu inúmeros prêmios literários e acadêmicos que reconhecem sua contribuição ao campo cultural. Entre eles estão o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto de sua obra, e o Prêmio Juca Pato, que o consagrou como Intelectual do Ano em 2002. Ele também foi agraciado com o Prêmio Jabuti e com o título de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique, em Portugal.
Seus livros foram traduzidos para 12 idiomas, consolidando sua reputação como um dos escritores brasileiros mais conhecidos no exterior. Na Europa, especialmente em Portugal e na França, suas obras são amplamente estudadas e celebradas.
Um príncipe das letras goianas
Em Goiás, Gilberto Mendonça Teles ocupa a cadeira 11 da Academia Goiana de Letras desde 1962, sendo eleito Príncipe dos Poetas Goianos. Essa honraria reflete não apenas sua importância literária, mas também seu papel como herdeiro e continuador de uma tradição poética que enaltece a cultura do estado.
Sua obra também integra listas de destaque, como a seleção das 20 obras literárias mais importantes do século XX em Goiás, onde A Raiz da Fala e Hora Aberta figuram entre os destaques. Compre online os livros best-sellers
Bela Vista de Goiás: um marco cultural
O impacto de Gilberto Mendonça Teles vai além de sua produção literária e acadêmica. Ele transformou Bela Vista de Goiás em um símbolo de resistência cultural e criatividade, mostrando que o interior do Brasil pode produzir talentos de alcance global. Sua trajetória inspira novas gerações de escritores, professores e artistas, reafirmando a importância de preservar e valorizar as raízes culturais.
Hoje, Bela Vista de Goiás carrega com orgulho o título de berço de um dos maiores ícones da literatura brasileira. A cidade, com seus buritizais sussurrantes, continua a ecoar na poesia e no legado de Gilberto Mendonça Teles, consolidando seu lugar como um marco cultural que atravessa fronteiras e gerações. (Fonte: Fernanda Cappellesso/curtamais).